o essencial

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

DIFERENÇA ENTRE PESSOAS AUTOCONFIANTES E NARCISISTAS



Em tempos de tanta exposição fica tênue entender quem aposta em seu próprio taco e quem realmente exagera no quesito 'eu me amo'. Ser autoconfiante ou ser narcisista de um ponto de vista mais superficial até parece a mesma coisa, mas não é. Internamente ambos são muito diferentes porque são o oposto um do outro. Enquanto a autoconfiança pode ser considerada uma virtude em que o indivíduo se sente bem consigo e, mesmo diante de dificuldades, consegue encontrar saídas, o narcisismo é tratado como uma psicopatologia. "Ele revela o exagero no olhar para si mesmo, uma arrogância e uma diminuição da importância do outro", completa a psicóloga e psicanalista Luciana Balestrin Redivo Dreh, professora do curso de psicologia na Escola de Ciências da Saúde PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul)
Ainda parece confuso? Por sorte, existem 7 características bem definidas que ajudam a diferenciar um e outro. E para ajudar a entender a forma de agir de um autoconfiante e de um narcisista, o psicólogo Fabricio Guimarães, Doutor e Mestre em Psicologia Clínica pela UnB (Universidade de Brasília) e Membro do Núcleo de Gênero e Psicologia Clínica e Cultura da mesma instituição (NEGENPSIC/IP/UnB), aponta aqui os traços de cada um.

1. Autoestima
Autoconfiante: pessoa bem resolvida que não depende da aprovação do outro, portanto não precisa se expor. Ela mesma sabe reconhecer seus potenciais e seus defeitos, conseguindo lidar com cada um deles
Narcisista: vende a ideia de que se gosta muito, mas no fundo tem baixa autoestima e necessita da valorização externa. Ele se mostra em busca de elogio, e quer que as pessoas o considerem bem resolvido.   

2. Reconhecimento de suas limitações
 Autoconfiante: sabe valorizar o que tem de positivo, mas não se considera superior diante dos outros. Também aceita suas limitações, sem se abalar com dificuldades e problemas, pois confia que irá conseguir enfrenta-los.
Narcisista: se considera superior e tenta sempre mostrar que é melhor que o outro. Ele não consegue reconhecer suas limitações, acredita ser perfeccionista e não enxerga (ou até nega) seus defeitos.

3. Exagero x Realidade
Autoconfiante: tem uma percepção real de suas qualidades e defeitos.
Narcisista: exagera em tudo, colocando um holofote apenas no que tem de bom.

4. Ser assertivo x querer chamar atenção
Autoconfiante: consegue conversar e argumentar, não precisa se impor ou ser agressivo, acima de tudo sabe ouvir o outro.
Narcisista: não sabe ouvir, só quer ser a atenção a qualquer custo.

5. Empatia x Desprezo
Autoconfiante: consegue se colocar no lugar do outro, entender as dificuldades alheias e perceber as qualidades, elogiando e dando um retorno positivo.   
Narcisista: despreza qualquer qualidade positiva do outro, pois enxerga isso como um risco para a sua soberania.

6. Egoísmo x Cooperação   
Autoconfiante: trabalha junto e coopera, está sempre dividindo as glórias com a equipe, todos podem ser elogiados.   
Narcisista: só quer a autovalorização, e o mundo gira em torno de si. Se puder tirar proveito de uma situação em benefício próprio irá fazê-lo, mesmo que tenha que passar por si do outro.   

7. Arrogância x Compaixão   
Autoconfiante: sabe entender o erro do outro e ajudar, consegue criticar positivamente e usar o erro para um crescimento em conjunto.   
Narcisista: não desperdiça a oportunidade para apontar o dedo, destacar os defeitos alheios.   

É preciso buscar ajuda!   
"É muito fácil identificar as diferenças entre um e outro, pois o autoconfiante suporta as qualidades do outro, enquanto o narcisista sofre com isso e precisa de ajuda", confirma Guimarães. O narcisismo tem a ver com certo investimento amoroso em si mesmo e em sua autoimagem, isso se torna algo fundamental para a saúde psíquica da pessoa. Portanto, uma pessoa autoconfiante suporta as situações de frustrações ou fracassos da vida sem desmoronar.   
Já um narcisista estruturalmente ferido exige muitas defesas que tentam proteger tal fragilidade. "Ainda que pareça se tratar de um excesso de confiança, está em posição oposta à da autoconfiança ou à autoestima, refletindo feridas malcuidadas que precisam ser protegidas a todo custo", explica psicanalista Berta Hoffmann, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e membro associado à SBPSP (Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo). Para algumas pessoas, um arranhão em sua imagem é encarado como algo insuportável, assim como a potência do outro pode ser sentida como ataque à sua, sendo preciso diminuir os feitos alheios para proteger a si mesmo
E para enfrentar essa situação, é importante um espaço de análise para a ampliação do conhecimento de si, por meio de uma escuta ética e qualificada de um psicólogo.
Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/01/29/pessoas-autoconfiantes-podem-ser-narcisistas-veja-como-diferenciar.htm

terça-feira, 18 de junho de 2019


A diferença entre adorar e amar explicada em ‘O Pequeno Príncipe’

Adorar e amar são dois sentimentos maravilhosos mas, sem dúvida, distintos. Todos (ou quase todos) nós temos um propósito firme e intangível na nossa vida: amar alguém com todas as nossas forças.
Nós pensamos sobre isso e desejamos fervorosamente pelo simples fato de que nós pensamos que realizar estes objetivos nos conduz à felicidade. Não estamos errados em pensar que o apego saudável é indispensável para explorar o nosso mundo.
No entanto, por diversas razões, acabamos confundindo o adorar com o amar e vice-versa. Como consequência desta confusão, enchemos a nossa mochila emocional de “eu te adoro” falsos e de “eu te amo” vazios.
A sabedoria emocional presente nos diálogos de O Pequeno Príncipe
Saint-Exupéry nos oferece uma magnífica passagem na obra ‘O Pequeno Príncipe’ que podemos pegar para ilustrar este artigo, a fim de lançar luz sobre essa realidade emocional poderosa que afeta quase todas as pessoas em um momento ou outro da vida.
—Eu te amo —disse o Pequeno Príncipe.
—Eu também te adoro —respondeu a rosa.

—Mas não é a mesma coisa —respondeu ele, e logo continuou— Adorar é tomar posse de algo, de alguém. É buscar nos outros o que preenche as expectativas pessoais de afeto, de companhia. Adorar é fazer nosso aquilo que não nos pertence, é se apropriar ou desejar algo para nos completar, porque em algum momento reconhecemos que estamos carentes.
Adorar é esperar, é se apegar às coisas e às pessoas a partir das nossas necessidades. Então, quando não temos reciprocidade, existe sofrimento. Quando o “bem” adorado não nos corresponde, nos sentimos frustrados e decepcionados.
Se eu adoro alguém, eu tenho expectativas e espero algo. Se a outra pessoa não me dá o que eu espero, eu sofro. O problema é que há uma maior probabilidade de que a outra pessoa tenha outras motivações, pois somos todos muito diferentes. Cada ser humano é um universo.
Amar é desejar o melhor para o outro, mesmo quando as duas pessoas têm motivações bem diferentes. Amar é permitir que você seja feliz, quando o seu caminho é diferente do meu. É um sentimento altruísta que nasce ao se entregar, é se dar por completo a partir do coração. Por isso, o amor nunca será causa de sofrimento.
Quando uma pessoa diz que já sofreu por amor, na verdade ela sofreu por adorar, não por amar. As pessoas sofrem pelo apego. Se alguém ama realmente, não pode sofrer, pois não espera nada do outro. Quando amamos, nos entregamos sem pedir nada em troca, pelo simples e puro prazer de dar. Mas também é certo que essa entrega, este “se entregar” altruísta, só acontece no conhecimento.
Só podemos amar o que conhecemos, porque amar envolve saltar para o vazio, confiar a vida e a alma. E a alma não se indeniza. E conhecer a si mesmo é justamente saber de si, das suas alegrias, da sua paz, mas também das suas raivas, das suas lutas, dos seus erros. Porque o amor transcende a raiva, o erro, e não é só para momentos de alegria.
Amar é a confiança plena de que aconteça o que acontecer, você vai estar presente, não porque você me deva alguma coisa, não por uma posse egoísta, e sim só por estar, em uma companhia silenciosa. Amar é saber que o tempo, as tempestades e os meus invernos não mudam.
Amar é dar-lhe um lugar no meu coração para que você fique como parceiro, pai, mãe, irmão, filho, amigo, e saber que no seu há um lugar para mim. Dar amor não esgota o amor, pelo contrário, o aumenta. A maneira de retribuir tanto amor é abrir o coração e deixar-se ser amado.
— Agora entendo —contestou ela depois de uma longa pausa.
— É melhor viver isso —aconselhou-lhe o Pequeno Príncipe.
Outra bela explicação relacionada com a diferença da qual falamos é aquela que os ensinamentos budistas nos oferecem. Neles, afirma-se sabiamente que se você adora uma flor, a arranca para tê-la consigo, mas se “ama” uma flor, você a rega todos os dias e cuida dela.
Definitivamente quando amamos alguém o aceitamos tal como ele é, permanecemos ao seu lado e procuramos deixar depósitos de felicidade e êxtase em todos os momentos. Porque os sentimentos, para serem puros e intensos, têm que vir lá de dentro.
Por isso é essencial fazer um exercício de trabalho interior e questionar se estamos fazendo tudo certo, se estamos demonstrando bem os nossos apegos e os nossos sentimentos, ou se, pelo contrário, estamos confundindo-os com o desejo de colocar as nossas relações em palavras duradouras e profundas.


sábado, 8 de julho de 2017

Manuscrito ocultado por 2 mil anos pelo Vaticano revela: ''Os seres humanos tem poderes sobrenaturais''

Manuscrito ocultado por 2 mil anos pelo Vaticano revela: ''Os seres humanos tem poderes sobrenaturais'': Microscopicamente, não há nada natural, tudo é vibração, tudo é feito de energia condensada. Vivemos em um universo de vibrações e nossos corpos são constituídos de vibrações de energia que nós emanamos constantemente.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Narcisos e perversos



Narcisos e perversos


Levado ao extremo, o narcisismo fica longe do belo: 
pode virar doença e eliminar vidas

Donald Trump humilhou muita gente na televisão enquanto popularizava o bordão “you’re fired” (está demitido), no programa “O Aprendiz”. Hoje candidato à presidência dos Estados Unidos, ele se mantém fiel à falta de empatia com propostas como a de um muro para barrar imigrantes, que seria pago pelo vizinho México. Fã de construções grandiosas, tem um império: US$ 4,5 bilhões na avaliação da “Forbes”, US$ 10 bilhões segundo ele mesmo. É vaidoso e gosta de se gabar, tanto que muitos o consideram narcisista. Pior: um narcisista perverso, como decretaram psicólogos ouvidos pela revista “Vanity Fair” e como sugere a petição online que defende uma avaliação psicológica do candidato. Ficar sob o comando de alguém com transtorno de personalidade narcisista é realmente um problema, mas não se restringe ao eleitorado dos EUA: esse mal pode estar muito, muito perto de você.

Todos conhecem gente com alguns dos traços que caracterizam um narcisista perverso – para não dizer nós mesmos. Estão alinhados com a sociedade do “eu”, que é calcada na ambição, conquista, autoconfiança, autopromoção e autoestima. E na qual temos, literalmente sempre à mão, uma ferramenta para registrar e mostrar à plateia nossos feitos, que serão curtidos, comentados, compartilhados. Tudo isso engloba o narcisismo, mas não necessariamente a doença: ela só existe quando cinco ou mais das características descritas no DSM-5 (sigla em inglês para Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) se manifestam de forma consistente a partir da idade adulta. Sendo assim, aquele chefe que tanto se acha pode ser só um babaca. Ou, de fato, um narcisista perverso, caso manipule pessoas e situações a seu favor, acredite ser essencial para a existência da empresa (ou do mercado) e humilhe quem está a sua volta para garantir destaque. Segundo o manual, a incidência do problema pode ser maior entre os homens.

"Para essas pessoas, o céu é o limite. Elas vão acabar com tudo o que significa a existência do outro, e o efeito é devastador: uma das relações mais destruidoras que pode existir para qualquer ser humano”, resume a psicóloga Silvia Malamud , especializada em tratar vítimas de narcisistas perversos. É tão grave que, ao comparar características desses agressores com as de um psicopata, a especialista cita poucas diferenças. Basicamente, o psicopata não desiste do alvo, enquanto o narcisista pode substituí-lo – não sem antes resistir ou abusar da manipulação. “As ações do perverso também podem levar à morte. Ele vai eliminar tudo o que constituiu o outro: sua moral, sua estética, seu trabalho e por aí vai. É comum a vida da vítima entrar em colapso”.

Agradeça se nunca experimentou esse extremo do narcisismo nas relações pessoais. No texto “Uma Violência Silenciosa: Considerações Sobre a Perversão Narcísica”, o filósofo e psicanalista André Martins explica que, nessa situação, o fortalecimento do ego do agressor passa pela desvalorização do outro. A violência é velada, não assumida e negada pelo narcisista, que dá um jeito de inverter papéis e fazer o outro se sentir culpado. “Embora sempre tenha existido, essa perversão talvez encontre na cultura contemporânea um terreno fértil, mais comum do que poderíamos supor. Não é explícita, mas imiscui-se no dia a dia, nas pequenas relações, nos pequenos atos, tendendo a passar despercebida”, explica, reforçando que a violência não é necessariamente física e pode estender-se por um longo tempo.

O terreno fértil ao qual Martins se refere passa pela crença de que é possível existir satisfação o tempo todo. Em caso de revés, haverá sempre um atalho para sentir-se melhor - seja com viagens, intervenções estéticas e, vá lá, filtros do Instagram. “Podemos pensar no narcisismo como a busca da plenitude total, sem a existência de limites para a satisfação. Mas não há como estar totalmente satisfeito sempre, isso é ficção”, explica o psicanalista e professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Hemir Barição. “As pessoas estão fascinadas com soluções que parecem livrá-las de um certo mal-estar. É como matar a fome com gelatina: engana, mas por pouco tempo.”

Em longo prazo, diz o livro “The Narcissism Epidemic” (“A Epidemia do Narcisismo” em tradução livre), esses valores trazem consequências destruidoras: falsos ricos (atolados em dívidas), falsas beldades (padrão atingido via plásticas e procedimentos estéticos), falsos atletas (usuários de anabolizantes), falsas celebridades (reveladas por reality shows e redes sociais), falsa sensação de que se é especial (educação das crianças focada na autoestima) e falsos amigos (são centenas deles, mas só no ambiente virtual). “Toda essa fantasia pode fazer nos sentirmos bem, mas, infelizmente, a verdade sempre vence. Os empréstimos hipotecários e a resultante crise financeira [de 2008] são apenas uma demonstração de como, no fim, desejos pretensiosos acabam colidindo com a realidade”, afirma a obra.

A situação fica ainda mais grave quando pessoas viram objetos para garantir a plenitude dos narcisistas: é a “objetificação” do outro, o ato ilusório de enxergá-lo como uma ponte para o bem-estar. No âmbito pessoal, se já houver uma pré-disposição, isso cria a relação de opressor e oprimido que caracteriza o narcisismo perverso. Na esfera pública, acredita Barição, o que se vê é uma sociedade sem culpa nem vergonha. “Este é um dos sinais mais assustadores do funcionamento da nossa cultura. Esses dois afetos têm a ver com o outro e sua ausência mostra que o enxergamos como um objeto”, diz. “Como consequência, as pessoas ficam cínicas e nunca acham que precisam reparar nada ou se desculpar por algo que fizeram. É a lógica do ‘todo mundo faz, funciona assim’, tão recorrente na política.”



Você deve conhecer relacionamentos que envolvam narcisistas perversos, embora o diagnóstico só possa ser feito por especialistas. Na prática, não é o que acontece, e há muitos relatos de pessoas que dizem ter sido vítimas deles – os depoimentos frequentemente vêm de filhos ou da parte oprimida num relacionamento amoroso. Na França, onde muito se fala sobre o tema, o transtorno acompanha a discussão sobre assédio moral no ambiente de trabalho.

As histórias são semelhantes e fazem parecer que os agressores seguem um manual. São atraentes e precisam estar sempre em destaque – a vítima, ofuscada, servirá de “régua” para o narcisista medir seu sucesso em áreas distintas. Nada está bom o bastante, nunca. O que lhes falta de empatia existe de sobra na capacidade de argumentação. O importante é manterem a posição dominante. Para isso, recorrem à ameaça de abandono, à sedação emocional (assumem uma personalidade adorável para retomar o controle) e ao gaslighting (distorções ou invenções para fazer a vítima duvidar dela mesma, chegando a questionar sua sanidade).

Se parece existir um código de conduta para os narcisistas perversos, o mesmo pode se dizer de seus alvos. Não são pessoas frágeis, pelo contrário. André Martins as descreve como fortes, cheias de vida e propensas a enxergar a violência como um desafio para transformar o outro. “O paradoxo é que ela se enreda justamente por julgar-se forte e capaz de superar o sofrimento vindo da agressão injusta [...]. Quanto mais o agressor se torna maldoso em suas palavras, mais a vítima fica solícita, se adapta, cede, se restringe.”

Trata-se de um acordo inconsciente entre as partes, que funciona em looping. O agressor dá a entender que ama a vítima. Seu comportamento alterna entre seduzi-la e agredi-la – na segunda opção, usa macetes de manipulação para criar um consenso de que foi “porque mereceu”. O oprimido vê na relação uma forma de suprir carências e se considera capaz de, um dia quem sabe, ganhar o tão esperado reconhecimento. “Quando é bom, é bom demais. Quando é ruim, é o pior dos mundos. O perverso narcisista identifica qual a carência daquela pessoa para tirar pedaços, como uma erva daninha”, compara Silvia.

Pela forma sutil e manipuladora como a situação se desenvolve, o alvo pode demorar muito para identificar o problema – se acontece, é porque o absurdo da situação chegou ao limite. O narcisista, desprovido de empatia e imerso numa cultura em que “se achar” está liberado, raramente tem dimensão da crueldade de seus atos – até por isso os depoimentos sobre a agressão vêm da outra parte. No livro “Sequestradores de Alma, Guia de Sobrevivência”, a autora Silvia Malamud conta a história de Vera (nome fictício), uma paciente que acredita ter sido salva por um câncer de mama. Foi só durante o tratamento do tumor que ela percebeu o comportamento narcisista do parceiro com quem se relacionou por 16 anos: ele chegou a reclamar explicitamente que a doença da mulher o havia tirado do centro das atenções.

Em uma rara exceção, um estudo realizado em 2011 por quatro universidades norte-americanas traçou o perfil de uma mulher de 85 anos diagnosticada, via testes e entrevistas, como narcisista perversa. A conclusão é que as relações pessoais serviam apenas como combustível para alimentar seu narcisismo, e o sentimento de superioridade impedia a criação de laços afetivos. Mas a falsa convicção de ter uma “vida incrível” não a deixava perceber qualquer problema de relacionamento. “Nunca amei ninguém como a mim mesma”, disse a idosa, mãe de uma filha com quem, à época do estudo, mantinha contato frequente.

Não há um consenso sobre a causa do transtorno, mas o ambiente e forma de criação podem favorecer seu surgimento. No caso da idosa, os pesquisadores apontam grande instabilidade familiar: ela perdeu o pai quando criança e, aos 18 anos, já tinha vivido com a mãe e dois irmãos em 15 casas. Nesse período, também estudou em 20 escolas diferentes. Nem todos em situação semelhante desenvolverão a perversão, claro. Mas a cultura contemporânea não condena atitudes compatíveis com a patologia: se houver uma pré-disposição para ela existir, o ambiente se mostrará favorável.

O tratamento da perversão é considerado muito desafiador, se não impossível, porque o narcisista não tem consciência do problema – afinal, tudo nele é incrível. Dificilmente procura ajuda psicológica e, quando o faz, é para convencer a vítima que está disposto a mudar. A tendência é abandonar rapidamente o tratamento, não sem antes tentar convencer que é o verdadeiro injustiçado. Sendo assim, a responsabilidade pelo fim dos abusos fica a cargo dos alvos, o que torna a situação ainda mais cruel: cabe a eles, já fragilizados, identificar os mecanismos de controle e encontrar maneiras para se livrar do problema. Uma mudança certamente desafiadora, mas não menos do que tentar sempre agradar a um dominador.

Apesar de assustadores, os casos de perversão são exceção. Regra é o narcisismo do cotidiano, no qual estamos imersos, que podemos suavizar se adotarmos uma abordagem diferente diante da insatisfação. “Se outras gerações eram muito conformistas, a tolerância agora é muito baixa. O nível de sofrimento que as pessoas suportam é pequeno. É preciso resistir a esse movimento quase compulsivo frente a um conflito, de recorrer rapidamente a uma saída, e examinar o desconforto. Saber dosá-lo para ver até onde ele pode nos levar e não apenas encontrar paliativos”, afirma Barição. É entender que gelatina não mata fome. E rever o tão disseminado estilo de vida narcisista, que pode levar a consequências muito mais graves do que a enxurrada de selfies em sua timeline.
 Fonte: site uol.com.br